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A BOA E VELHA COMPARAÇÃO ESTEIRA X RUA. EXISTE DIFERENÇA NA CORRIDA EM CADA UMA DELAS?

  • Foto do escritor: Shod Esportes
    Shod Esportes
  • 2 de nov. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 22 de dez. de 2020

Quando você usa a esteira, normalmente pensa se a sua forma de correr é a mesma de quando corre na rua? Já teve este tipo de pensamento? Ou então quando está aquele dia chuvoso, e você não quer deixar de correr, e tem a possibilidade de correr na esteira, vê isso como um treino feito como se tivesse feito na rua?


Mas correr é igual independente de onde e da forma como se corre, não é? Afinal, correr é uma habilidade motora fundamental, faz parte de nosso desenvolvimento motor, e independente de onde seja realizada, correr será sempre correr, não é?




Tudo depende da ótica de como olhamos o fenômeno correr. Um grupo de pesquisadores de 5 países (van Hooren et al, 2020) fez um compilado de 33 estudos (revisão sistemática com meta análise) comparando variáveis biomecânicas entre corrida em esteiras motorizadas e corrida em ambiente aberto. Em todos estes estudos somam-se 494 corredores mensurados onde na maioria dos estudos eram corredores com experiência na corrida, com velocidades avaliadas entre 9,4 a 23 km/h e com tempo de familiarização antes das medidas na esteira.


Vamos começar destacando as variáveis sem diferença estatística significante:

- Nas variáveis espaço temporais: tempo de contato, a velocidade de corrida, a frequência e o tempo de passada.

- Nas variáveis Cinemáticas: inversão e eversão do pé; do medioapoio, no final da propulsão, a flexão, adução e abdução do joelho; na amplitude de movimento do quadril durante a fase de apoio; na extensão do quadril independente do piso comparado com a esteira, o mesmo acontecendo em termos de adução e abdução desta articulação.

- Nas variáveis cinéticas: força de reação do solo vertical; a taxa média e instantânea da carga vertical, momento articular do joelho no plano sagital; potência excêntrica do tornozelo; pico positivo da aceleração tibial;

- Nas variáveis eletromiográficas não aparentou qualquer diferença significativa dentre os estudos levantados pelos autores.


Agora destacando as variáveis com diferença estatística significante:

- Nas variáveis cinemáticas: a dorsiflexão no momento de contato do pé com o solo, na esteira, mostrou-se menor em 9,8 graus; a flexão do joelho, no momento de contato com o solo, maior flexão de joelho na esteira em relação ao concreto (2,8 graus); a amplitude de movimento da flexão do joelho, desde o toque do pé ao solo até o médio apoio, foi 6,3 graus menor que no piso. Com relação ao quadril, este se mostrou menos flexionado em 4,1 graus comparado à pista no momento do toque do pé ao solo. O mesmo aconteceu no médio apoio em 4,2 graus. Em termos de deslocamento vertical do centro de massa ou marcadores pélvicos estes se mostraram menores comparado aos pisos em geral por volta de 1,5 cm.

- Nas variáveis cinéticas: menor pico de pressão, menor pico propulsivo, maior momento articular do tornozelo no plano sagital, ,com a corrida na esteira


Figura 1 - Resumo das diferenças significativas encontradas pelos autores do compilado de 33 artigos e um total de 494 corredores. (Seta para baixo indicam que a variável é menor e seta para cima indica que é maior ou mais longo na esteira comparado ao piso usual; ADM - amplitude de movimento; comp. - comparado com; adaptado de van Hooren et al 2020)


Tudo bem, mas quais as implicações disso para o treinamento? Existem alguns pontos destacados pelo autores, como por exemplo a rigidez do piso: normalmente desconsidera-se para tal fato, mas os pisos das esteiras diferem do piso de concreto ou da pista, já que normalmente são uma base de madeira com coxins de borracha, e isso diminui a rigidez do piso comparado ao piso de rua ou laboratório. Os autores destacam a necessidade de clínicos, atletas e pesquisadores atentarem para isso, escolhendo muito bem os pisos que utilizarão para avaliar ou treinar.


Outo fator, destacado pelos autores, é a potência do motor da esteira que pode fazer a biomecânica da corrida variar, pois motores menos potentes, tendem a não conseguir manter a velocidade da esteira quando se está pressionando a lona do piso durante o apoio, principalmente em indivíduos com massa corporal mais elevada.


Mais uma questão destacada é o grau de familiarização com as esteiras. O tempo mínimo sugerido pelos autores é de 8 minutos para ser feita qualquer medida. Tudo isso para que, após familiarizado, este fator influencie o menos possível nas medidas a serem realizadas.


E por ultimo, destaca-se a percepção da velocidade da esteira por parte do corredor. Por mais que ele não tenha ideia de valores de frequência de passada, ao perceber uma maior velocidade ele tenderá a utilizar uma frequência maior e passos menores que os utilizados no piso externo. Portanto, se faz necessário primeiramente testar com o atleta qual seria a velocidade percebida antes de fazer qualquer medida, pois ao não verificar a sua percepção da velocidade pode-se implicar em modificações reais na forma de correr, e certamente, a avaliação estará menos confiável e validada por este fator.


Destaco aqui um fator não discutido pelos autores mas comentado nas conclusões que é a resistência do ar em velocidades maiores nas avaliações em ambiente aberto, mesmo que não esteja ventando. Sendo uma resistência a mais, pode-se interferir principalmente na atividade muscular dos músculos envolvidos, pois mais essa força externa influencia diretamente a resistência sofrida pelo corpo ao correr a maiores velocidades. Algo que não acontece nas esteira em qualquer velocidade.


Agora, partindo para a demonstração e relato de uma experiência prática, com a utilização de sensores vestíveis, demonstro aqui a diferença entre a corrida na esteira e no asfalto (plano) com as fotos à seguir:

Figura 2 - Comportamento da velocidade de prono-supinação durante corrida em asfalto a um pace de 5'30''.

Figura 3 - Comportamento da velocidade de prono-supinação durante corrida em esteira a um pace de 5'30''.


Aparentemente, as fotos são similares, mas se observarmos atentamente vemos que na figura 2 a velocidade com que o pé se movimenta medialmente pode chegar aos 800 graus por segundo (asfalto), e aos 500 graus por segundo (fig. 3 na esteira). Outro fator é a própria variabilidade que ocorre no asfalto, onde percebe-se um traço muito mais variado nos primeiros 20% do apoio do pé no solo, comparado com a figura de baixo (número 3).


Isso pode ser visto sobre duas óticas: a primeira sobre a variabilidade excessiva, expondo por mais vezes os tecidos a um stress maior por chegar a velocidades 50% maiores que as velocidades de apoio na esteira. Por outro lado, esta falta de variabilidade também pode provocar um stress maior sempre nos mesmos tecidos. Este será o dilema a ser resolvido. Talvez possa-se optar pela alternância de estímulos para que tanto a exposição a uma maior velocidade provoque novas adaptações e enriqueça o repertório motor do corredor; e a pouca variabilidade, com o objetivo de expor sempre o mesmo tecido para que este se adapte a futuras situações de stress mais frequentes.


Referência Bibliográfica:

Van Hooren, B., Fuller, J. T., Buckley, J. D., Miller, J. R., Sewell, K., Rao, G., ... & Willy, R. W. (2020). Is motorized treadmill running biomechanically comparable to overground running? A systematic review and meta-analysis of cross-over studies. Sports Medicine, 1-29.








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